DISCUSSÃO EM VOGA
Cinema Independente nos EUA e exposição da violência são temas de debates na Mostra
por Rodrigo Herrero (rodrigo@rabisco.com.br)
Fotos: Thiago Vieira
os muitos debates que contribuíram para a discussão de cinema no Clube da Mostra, e que a reportagem Rabisco esteve presente, podemos destacar duas discussões que foram muito intensas e interessantes: o cinema independente nos Estados Unidos e a exposição da violência nos filmes atuais.
No primeiro debate citado, os cineastas estadunidenses Matt Ruskin, do filme O Projeto Hip Hop, Aaron J. Wiederspahn, de A Sensação de Ver, e Charles Lipin, deAmerican Combatant, estiveram no dia 24 de outubro nas dependências do Clube da Mostra e trataram da dificuldade de se ter uma produção independente naquele país.
A obra de Ruskin demorou um ano apenas para fechar a parte de distribuição, conseguindo lançá-lo definitivamente há pouco mais de um mês. “Não é fácil, os produtores são muito intuitivos, mesmo que o filme for bem feito e importante, eles pensam se o filme pode fazer dinheiro”. Para ele, o jeito é buscar festivais que possam divulgar seu trabalho. Wiederspahn concordou: “Meu filme não é tradicional, comercial, é de arte, então tenho que contar com os festivais de cinema porque é um filme difícil de comercializar”.Segundo Libin, o mais importante é o filme ter seu estilo e conteúdo independentes, que não se encaixe em nenhuma fórmula, porque há produtoras que se dizem independentes, mas recebem investimentos para sua subsistência, como o caso da Miramax, citada por ele. “Meu filme foi feito com a ajuda da família e de amigos. É um filme verdadeiramente independente, não foi financiado por ninguém”, afirmou.
Eles comentaram também sobre como fazer para ser independente dentro desse cenário complicado. “A melhor maneira de aprender sobre cinema independente e sobre filmes de uma forma geral é trabalhando na área, conseguir algum trabalho, de graça ou ganhando pouco, mas botando a mão na massa”, declarou Ruskin. “Ser independente é controlar o conteúdo e não há outra forma de controlar se você não for independente. Eu nunca freqüentei uma escola de cinema, mas isso depende muito do indivíduo. É uma questão de paixão, tentar conhecer filmes dos mais variados lugares do mundo, etc.”, disse Wiederspahn.É tudo muito difícil, principalmente nos Estados Unidos, que a produção comercial sobrepõe quase qualquer outra forma de trabalho cinematográfico. “Eu me sinto um estrangeiro nesse sistema de Hollywood, 99% da produção é pobre artisticamente, mas a maioria dos americanos não conhece os grandes cineastas americanos”, falou Wiederspahn. “Eu entendo essa hostilidade ao cinema americano, porque eles mostram aspectos negativos da sociedade, como a destruição em massa, efeitos especiais. Faz as pessoas acharem tudo aquilo um grande clichê, chegando ao caso das torres gêmeas, em que todos acharam no começo que era um grande efeito especial de Hollywood”, completou Libin.
Violência e cinema
Já a violência no cinema foi tema de discussão no dia 31 de outubro, com a participação dos diretores e roteiristas Julia Loktev (Day Night, Day Night) e Laurence Lamers (Paid). Para Julia, a violência dos filmes em geral é estilizada, glamourizada, levando muito tempo com as pessoas lutando. Ela prefere um tipo de violência mais rápida, ao mesmo tempo cruel. “Eu gosto de violência, mas quando não está muito presente nos filmes, quando são pequenas violências ou então o oposto total, quando o filme é realmente violento, como o caso do Old Boy. Eu não gosto quando o filme fica no meio termo, tipoMatrix, onde a violência é muito estilizada. Eu odeio esse filme, os caras voando, lutando no ar, um lutando contra cem, é tudo muito absurdo”, criticou.
Ela conta que no filme dela não há sangue, muito menos partes internas sendo mostradas, trata-se da falta de ação, de uma violência implícita e cita um exemplo de uma personagem que cortas as unhas do pé, lava as suas roupas íntimas, e tudo isso pode ser violento de alguma forma, indicando que os pequenos atos também podem ser violentos. “Tem uma diferença entre mostrar e ilustrar. Há toda uma sutileza nisso, então, às vezes, mostrar diretamente não é tão pertinente, eu prefiro insinuar e usar a sutileza ou então mostrar a violência real, direta”, disse. “Os filmes mostram a realidade que é, se você sugere tem muito mais força do que você mostrar”, concordou Lamers.Ele relata que na Holanda, país nativo do diretor, os filmes são mais conhecidos pelo sexo, não tanto pela violência, e o que acontece é baseado no que ocorre em Amsterdã, onde os gangsteres têm sido mortos por conta do crime organizado. Lamers comenta uma situação sobre o seu irmão pequeno por causa de um antigo filme dele, chamado A Jóia da Morte, que é feito em preto e branco e bastante violento, mas sem sangue. Seu irmão tinha apenas seis anos e já se acostumava a ver filmes violentos, mas, por acidente, acabou assistindo o filme de Lamers, ficando sem conseguir dormir durante uma semana. “Essa é a diferença para os filmes dos Estados Unidos que mostram essa violência estilizada, como se fosse um ballet, uma coreografia, e a violência real mostrada nos filmes holandeses, no meu caso”, completou. “Nos filmes estadunidenses não são mostradas as implicações da violência, ela parece uma coisa de circo, acrobática, quando a violência deve ser sentida em todas as suas implicações”, acrescentou Julia.
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